Meio dia. Sol a pique. Corpo a escaldar e fome a apertar. A meio caminho entre as Avencas e a Bafureira, nada. O local mais próximo e apetecível, com a maré a encher: esplanada de S. Pedro.
E seguimos, por entre as rochas e os banhistas. À chegada, não havia fila. Também não havia mesa. Optámos por ficar na esplanada "indoor". Por pouco tempo, pois em menos de nada, vagaram duas mesas. E havia, afinal, mais duas ou três vagas. Para um domingo em pleno Verão (era, afinal, o dia que marcava a viragem no calendário), à uma e pouco da tarde, era estranho. Crise instalada, pensámos.
Depois do pico da fome estar saciado, fomos olhando em redor.
Aquela já não é a Esplanada de S. Pedro. Ou nós não pertencíamos ali, ou algo tinha mudado.
Ao mesmo tempo que observávamos, íamos desfolhando a Time Out. Curiosamente, "ninguém vai a um restaurante só para comer", dissemos quase em uníssono, ao ler o artigo sobre os 10 anos da Bica do Sapato. O mesmo princípio se aplicará a uma esplanada.
Longe vão os tempos em que na Esplanada de S. Pedro se encontravam as simpatias, empatias e antipatias do liceu, do ginásio, da praia ou de qualquer outro local que tenha feito parte da vida dos que cresceram por estas bandas. Caras conhecidas, umas mais, outras menos, mas todas passavam por lá. E, de repente, desapareceram. Foram substituídas por ordas ainda mais suburbanas do que S. João, S. Pedro, Parede ou Carcavelos, locais que, sendo naturalmente subúrbio, nunca se assumiram como tal, tendo uma vida própria e uma espécie de tribo que se reconhece em qualquer lugar, o "pessoal da linha".
Famílias com pais jovens e crianças pequenas. Famílias já não tão jovens. Miúdas solteiras. Pessoas para lá dos cinquenta anos, numa heterogeneidade que torna difícil de classificar o ambiente. Corresponde exactamente ao tipo de pessoas que nunca se encontrava nesta esplanada.
Embora se adivinhe uma mudança na gerência, a comida, com excepção para a limitação (laranja e manga) nos sumos naturais, continua igual. O local, perdeu desde que lhe colocaram um acrílico por cima da madeira para proteger a esplanada da chuva. Transformou-a numa quase sauna, não fosse a brisa do mar. E as pessoas, já não são as mesmas...